terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

COMENTÁRIO DO BLOG SOBRE COMENTÁRIO DE ZORAYA

COMENTÁRIO DE ZORAYA:

Acessei. Parabens Professor, pela informatividade do Blog... atualidade e principalmente pela valorização do gênero feminino.Sem falar, que há tempos não vejo circular esta belissima música:[..] Não há um porto seguro, futuro também não háMas faz tanta diferença quando ela dança, dança[...]Lindaa.

COMENTÁRIO DO BLOG:

Zoraya:

Cidades são mulheres. Nada de novo pois Calvino (“As Cidades Invisíveis”), por exemplo, batiza com nomes femininos suas cidades imaginárias. Mesmo aquelas que têm nomes ‘masculinos’ (São Leopoldo, São Paulo, Rio de Janeiro ...) são mulheres. Quem haverá de negar o prazer de caminhar pelas ruas e praças de uma cidade cuidada com belos adereços. Pontes, viadutos, túneis ... tudo é belo. Mas há beleza singular numa pequena praça (dois bancos apenas), duas árvores ainda jovens, grama nova ... flores possíveis, construída no lugar onde, antes, as pessoas jogavam lixo de modo impróprio e nocivo.

Cidades são uma invenção humana cheia de enigmas, de tessituras e leituras faltosas e de eternos porfazeres. Na própria Bíblia, o vazio criado pela constatação do enigma e do eterno inacabado das cidades impeliu os humanos a construir a Torre de Babel. O final dessa aventura todos sabemos. Mas penso que, olhando Babel de longe, vale a experiência de constatar que John Donne, poeta inglês (1572-1631), (“Elegia indo para o leito”) tinha razão:
“Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados a mulher [E A CIDADE] se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-la. Eu sou um que sabe ... “

Gosto muito de furtar o poema Elegia: indo para o leito, de John Donne quando tento, com previsível insucesso, compreender a paixão de alguém (nativo/a ou não) por uma cidade.
Aliás, Caetano Veloso fez uma adaptação e uma bela melodia deste poema, sob o título de Elegia.
Eis o poema de Donne na íntegra:
Elegia: indo para o leito

Vem, Dama, vem que eu desafio a paz;
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derramaDe ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda quieto, tão de perto.
O corpo que de tuas saias saiÉ um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é o nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu
Aos homens.
Tu, meu anjo, és como o Céu De Maomé.
E se no branco têm contigoSemelhança os espíritos, distingo:
O que o meu Anjo branco põe não é
O cabelo mas sim a carne em pé.
Deixa que minha mão errante adentre.
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra a vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha Mina preciosa, meu império,
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total!
Todo o prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) semVestes.
As jóias que a mulher ostenta
São como as bolas de ouro de Atalanta:
O olho do tolo que uma gema inflamaIlude-se com ela e perde a dama.
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-la. Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-Te: atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te é bastante.

Abraços, Até amanhã
Vicente


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